No ano de 2012 pude realizar um dos meus grandes
sonhos profissionais, ainda que durante um período relativamente curto:
Trabalhar com arqueologia. Poder buscar, escavar, participar de descobertas que
mudam o rumo da história era algo que me tirava o sono de uma maneira bastante
interessante.
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Mas se por um lado ficava extremamente feliz,
outras questões me deixavam bastante entristecido. Conhecendo a profundidade de
informações que eram possíveis de serem colhidas com a pesquisa arqueológica em
várias localidades, só conseguia me perguntar por que existiam tão poucos dados
sobre esse tipo de estudo na região de São Gonçalo. Consultando a base de
sítios arqueológicos no site do Iphan, existiam poucos – uns 2 ou 3. Só.
Voltando ao papo sério, no dia 8 de julho do
referido ano, foi veiculada uma notícia no site do Estadão sobre a descoberta de 4 sambaquis na área onde o
Comperj construía seu píer em São Gonçalo. Obra essa indispensável para o
recebimento de equipamentos de grande porte.
Explicando: Sambaqui vem do tupi e significa “amontoado de conchas”. São formações artificiais, algumas do tamanho de morros, erguidos em margens de baías, praias e rios com conchas de moluscos, ossos de animais e humanos, além de restos de objetos primitivos.
Nem preciso destacar como tal achado é importante para a arqueologia
brasileira. Nem preciso ressaltar como isso seria importante para a arqueologia
gonçalense, tão carente de compreender suas próprias origens. O Sítio
Arqueológico da Praia da Luz se concentra na área das praias da Luz e da Beira,
regiões carentes do município que teriam muito a ganhar com o desenvolvimento
de um polo de turismo arqueológico, que receberia curiosos da região e de fora,
assim como pesquisadores que trabalhem com sambaquis.
Muito bonita a descoberta, bastante relevante
mesmo. A única coisa que paira em minha mente foi... Por que diabos o Estadão
veiculou tal notícia (não tirando o mérito) enquanto NENHUM jornal da região
fez o mesmo? Nem Extra, nem São Gonçalo, nem O Dia, Fluminense e (hahaha) muito
menos O Globo? Será que não podem fazer críticas ao Comperj? Por que
no final, todas estas instâncias sabem que a descoberta de sítios arqueológicos
atrasariam ainda mais as obras do Polo Petroquímico que é construído em
Itaboraí?
Apenas à guisa de curiosidade, em 1961, o então
presidente Jânio Quadros assinou a lei 3924 que transforma de maneira
automática em monumento arqueológico ou pré-histórico os sambaquis como uma
estrutura que “representa testemunhos da cultura dos paleoíndios do Brasil”,
cabendo aos infratores as sanções dos artigos 163 a 167 do Código Penal.
Ainda em tempo: Não fazer voz a uma notícia, para
que ninguém saiba para que ele seja descaracterizado e não atrapalhe as obras
do Comperj é uma opção válida para que o gonçalenses perca mais um pouco de sua
história? Indiferença ao Patrimônio Histórico pode ser considerado crime
também? Tomara que sim.
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O Figueirinha I, com cerca de 18
metros de altura1
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Referências:
Descoberta de sítio arqueológico é
novo obstáculo à refinaria do Rio:http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,descoberta-de-sitio-arqueologico-e-novo-obstaculo-a-refinaria-do-rio-,897486,0.htm
LEI No 3.924,
DE 26 DE JULHO DE 1961.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L3924.htm
MACHADO, Jurema. A Unesco e o Brasil:
trajetória de convergência na proteção do patrimônio cultural. In Cadernos de
estudos do PEP. Contribuições da 1ª Oficina do PEP. Vassouras, 2006. Rio de
Janeiro: IPHAN, 2007.
Luciano Campos Tardock é colaborador do Blog Tafulhar e coordenador do Memória de São Gonçalo. Formado em História pela Universidade Salgado de Oliveira, Especialista em História Moderna pela UFF e Mestre em História do Brasil também pela Universidade Salgado de Oliveira. Participou do Centenário do ex-prefeito Joaquim Lavoura e atualmente faz parte da Comissão da "Operação Fazenda Colubandê - Quem ama cuida". |
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