quinta-feira, 29 de maio de 2014

Indústrias Gonçalenses: Cerâmica Olaria Porto do Rosa

Wilson Santos de Vasconcelos*

            Ao tafulhar por “Porto do Rosa” ou “Olaria Porto do Rosa”, na internet, fiquei bastante intrigado com o que encontrei, pois em quase todos os sites e blogs possuíam quase sempre a mesma reprodução de definição:

Porto do Rosa: o nome do bairro é herança da antiga Olaria Porto do Rosa, localizada na fazenda do Capitão Antônio José de Souza Rosa. A porteira de sua propriedade ficava próxima ao local onde eram empilhadas as mercadorias que chegavam e partiam do porto, o que a transformou em ponto de referência para os moradores da redondeza e para os barqueiros e comerciantes”.

            Fiquei com alguns questionamentos tais como: o nome do bairro veio da Olaria Porto do Rosa ou da porteira da propriedade da Fazenda do Capitão Antônio Rosa que se transformou, ao passar dos anos, em ponto de referência? O que é e como seria a Olaria? O que produzia? Será que a Olaria Porto do Rosa tivera alguma relevância econômica, social e política na cidade de São Gonçalo? Após algumas pesquisas, em livros, revistas e jornais, sobretudo, no site da Biblioteca Nacional, consegui desvendar alguns mistérios. Não tenho pretensão de esgotar todos os questionamentos, neste texto, mas o site está aberto para novos enredos.

Antecedentes históricos

            Até o século XIX, a economia de São Gonçalo foi essencialmente agrícola, em destaque, os grandes engenhos de açúcar nas fazendas Engenho Novo e Jacaré, ambas de propriedade do barão de São Gonçalo.

            Só no século seguinte tomaria grande impulso o desenvolvimento industrial. A completa ausência de vilas por todo o século XVII é, realmente, surpreendente. Só muito mais tarde, em 1808, com a chegada da corte lusitana ao Brasil, se desenvolveu, realmente, a cidade do Rio de Janeiro como centro urbano, tendo-se iniciado, por essa ocasião, um período de expansão urbanística. Apenas em 1834, por exemplo, foi alcançada a autonomia da província do Rio de Janeiro, tendo sido escolhida Niterói como sua capital, elevada à categoria de cidade, em 1835, tendo São Gonçalo como um de seus distritos.

   As Olarias são locais onde se confeccionam produtos de cerâmica, tais como tijolos, telhas e manilhas. 
            As atividades industriais na região, antes, predominantemente agrícola, não raro, situavam-se as olarias em antigas fazendas. As olarias constituíam apenas uma atividade subsidiária dos engenhos. Todavia, nas zonas que não eram aproveitáveis, do ponto de vista agrícola, a olaria sempre foi o seu principal esteio econômico. A Olaria Porto do Rosa, em São Gonçalo, numa zona, imprópria para a agricultura intensa, constituiu ela, sempre, uma a principal fonte de renda na fazenda do Capitão Antônio José de Souza Rosa.

            As olarias normalmente são construídas onde se há grande concentração de matéria-prima chamada tabatinga. A palavra Tabatinga é de origem indígena, vindo do tupi, tendo seu significado designado como barro branco ou barro esbranquiçado. É uma Argila com muita matéria orgânica, geralmente encontrada em pântanos ou locais com água permanente (rios, lagos), no presente ou no passado remoto.  

            Podemos visualizar no mapa, na cor marrom, local onde estão concentradas as olarias em São Gonçalo e na tonalidade verde os terrenos contendo a tabatinga.


           Na há dúvida, entretanto, de que a localização da Olaria Porto do Rosa é, em parte, devida ao fato de aí se encontrar a matéria-prima indispensável à confecção dos produtos de cerâmica A tabatinga é de ótima qualidade, atendendo a todos os requisitos exigidos para a confecção dos diferentes produtos de cerâmica. 


            Outro fator preponderante da expansão da atividade foi a proximidade com Niterói e a existência de comunicações fáceis tais como as estradas de ferro e os portos que garantem o escoamento da produção em determinadas áreas. Ainda que nas primeiras décadas do século XIX, a expansão de Niterói, embora mais lenta, e, sem dúvida, impulsionada pelo progresso da capital, iria concorrer para maior desenvolvimento da indústria da cerâmica na parte leste da baía.

            Mesmo com a proximidade com Niterói, havia muitas Olarias localizadas em São Gonçalo, mas por que a do Porto do Rosa ficou tão famosa?


            Um dos principais motivos seria político. Tão intensa teria sido tal influência que, já em 1910, a atual "Cerâmica Porto Rosa'', no município de São Gonçalo, então pertencente à firma "Lussac", já exportava telhas para as firmas construtoras do Rio de Janeiro, em embarcações próprias que saíam dos pequenos portos do fundo da baía. Mas quem seria Lussac além de proprietário da Olaria Porto do Rosa? Lussac era cunhado do Sr. Serzedello Corrêa, então prefeito do Distrito Federal.

            O seu período de maior desenvolvimento teve início em 1940, quando igualmente, começa a expansão demográfica e a instalação, em grande escala, de fábricas e indústrias em São Gonçalo. O processo de liquidação deu-se tão logo lotear o terreno para venda era mais rentável que produzir. 


            As olarias outrora constituíam apenas uma atividade subsidiária dos engenhos foram às precursoras do desenvolvimento industrial e urbano na cidade de São Gonçalo.



Fonte:
CAMPOS, Maria da Glória de Carvalho. Causas geográficas do desenvolvimento das olarias na Baixada da Guanabara. Revista Brasileira de Geografia. Ano XVII.  N.2. Abr.-jun., 1955.
Jornal O século. 14 de abril de 1910. Capa.
Carta do Distrito Federal organizada pelo Serviço Geográfico Militar - 1922 -- Escala -1:50 000. Cartas do Serviço Geográfico do Exército - Folhas topográficas - a) Nova Iguaçu, b) Caxias, c) Niterói,  d) São Gonçalo - Escala  1:.50 000  193.5. Mapas municipais do estado do Rio de Janeiro, organizados ern observância ao decreto-lei nacional n.0 311, de 2 de março de 1938 - Folhas de Nova Iguaçu, Caxias, Magé, Itahomí, Cachoeiras de Macacú, São Gonçalo, Niterói e .Maricá.
GEIGER, Pedro e outros "Estudos da recuperação econômica da Baixada Fluminense" in "Loteamento na Baixada da Guanabara" - pp. 95-101  4 fotografias - 1 mapa -Anuário Geográfico do Estado do Rio de Janeiro - N. 5 - 1952.
_________"O Rio de Janeiro de Ontem e de Hoje" - pp. 55-83 - 10 fotografias, 5 tabelas -O Observador Econômico e Financeiro - Ano XVIII  N.211 - Setembro de 1953, p. 55.
_________"Do Sobrado ao Arranha-Céu"  Pp. 23-28 - 7 fotografias - 1 gravura  2 tabelas -O Observador Econômico e Financeiro - Ano XVIII - N.213 - Nov. 1953.
_________"Construções Residenciais no Distrito Federal" - Pp. 46-50 - Ano VI - N.0 9 -Rio de Janeiro - Set. 1952.
MORALES DE LOS RIOS F.Adolfo - O Rio de Janeiro imperial - 494 pp.  112 ilustrações -3 gravuras - Índices especiais - Bibliografia - Editora "A Noite" - S/data.
PIZARRO e ARAÚJO, José de Sousa Azevedo – “Memórias históricas do Rio de Janeiro e das províncias anexas à jurisdição do vice-rei do Estado do Brasil"  262 pp. - 9 vols. - Impressão Régia - Vol. IV  - Rio de Janeiro, 1820.
Ribeiro, Daniel. Centenário da Independência do Brasil. Álbum do Estado do Rio de Janeiro. Olaria do Porto do Rosa, 1920.


Sobre o Autor:
Wilson Santos de Vasconcelos Wilson Santos de Vasconcelos é editor do Blog Tafulhar. Formado em sociologia pela UFF, mestre em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais pela ENCE/IBGE e Doutorando em Ciência Política pela UFF.

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